quarta-feira, julho 12, 2006

Beleza Pura

por Dubas Música

Do que um disco precisa para ser ‘belê’? A melhor maneira de responder é se ligar no som bom de se ouvir de Affonsinho, este sempre jovem artista que vem construindo sem pressa uma trajetória original e consistente para sua arte.Em Belê, Affonsinho se despede do seresteiro que interpretou na minissérie JK da TV Globo e retoma seu estilo melódico, pop e suingado. Aquele professor de guitarra de Samuel Rosa (Skank), fundador da banda Hanoi Hanoi, dá lugar ao excelente violonista, discípulo de João Gilberto, mas não abre mão do espírito do rock e dos solos de guitarra. Sua maneira de cantar é suave, suas harmonias fiéis à sofisticação da escola mineira da bossa nova, suas melodias muito inspiradas, mas nada é meloso ou passadista.
Belê aponta para o futuro e consegue uma rara proeza nestes tempos: falar a língua da modernidade sem a pretensão e o sotaque carregado de quem não domina o idioma.Affonsinho já provou que é um desses caras que pode interpretar músicas dos estilos mais diversos e fazer canções alheias parecerem “autênticos Affonsinhos”, tanto nos shows em que interpreta de Cole Porter a Beatles, Chico Buarque a Lulu Santos, como nos dois discos em que gravou leituras personalíssimas dos clássicos do Clube da Esquina. O artista teve tempo de, permanecendo novo, amadurecer como compositor, cantor e instrumentista; e também de equilibrar a escolha rigorosa do repertório entre o melhor de sua produção inédita com canções de outros compositores que diziam exatamente o que ele queria cantar. Depois de Zum Zum, seu primeiro disco para a Dubas, Affonsinho esperou a hora certa de gravar o segundo disco autoral e ter melhores condições de produção, para poder contar com o auxílio luxuoso de um time de músicos penta-campeões.
Os talentos de Alberto Continentino no baixo e Marcelo Costa na bateria e percussão detonam nas bases rítmicas. Fenômeno no fluguelhorn, Jessé Sadoc mais uma vez faz o que já era muito bom ficar muito melhor em “Causa e Efeito” – parceria do brasileiro radicado na Espanha Leo Minax com o compositor uruguaio Jorge Drexler, vencedor do Oscar de melhor canção em 2004. A balada é seguida pela participação especialíssima de Sandra de Sá, que dá um passeio em “Gamado pelo Samba”. Jorjão Barreto dá o tempero jazzy com Rhodes e o delicado toque final do piano em “Aquela Bossa Axé” – a primeira parceria de Affonsinho com Ronaldo Bastos, dedicada a Gal Costa, Cesar Mendes e Caetano Veloso, respectivamente a intérprete e os compositores de “Aquele Frevo Axé”, uma das mais inspiradas canções brasileiras dos últimos tempos. Inspiração maior em que também se chega através da sensibilidade e mestria da compositora e artista espanhola Ana Laan na comovente e cadenciosa “Para El Dolor”.Canções de Affonsinho como “Vagalumes”, “Nuvem Boa”, “Belê”, “Beijo em Videotape”, “Borboletou” e “Estrelas de Estrelas” mesclam-se à belíssima “Senza Fine”, clássico da música italiana composta por Gino Paoli, com sensível interpretação sobre a cama de uma guitarra que só ouvindo pra crer, e a participacão magistral de Jota Moraes arrumando os sons até atingir a quintessência da música e da poesia. Em contraponto o raro e visionário beat gaúcho de Nei Lisboa numa arrebatadora “canção de geração” que faz até o vento parar para pensar, com a magia da steelguitar de Rick Ferreira. O trabalho do produtor e músico mineiro Gauguin, principal parceiro na história musical de Affonsinho desde o início de sua carreira, é realçado pela incrível sensibilidade de Sacha Amback – o mais recente e decisivo colaborador no “estranhamento” da concepção do som beleza pura (e eletrônica) de Belê – e pela incrível competência do engenheiro de som Duda Mello. A concepção e direção artística do trabalho é do compositor e produtor carioca Ronaldo Bastos e do produtor uruguaio Leonel Pereda. Um trabalho maduro que tem o frescor de uma estréia. Um desses raros discos que você pode tocar inteiro, sem pular faixas, e repetir muitas vezes sem se cansar, descobrindo, a cada audição, belezas renovadas em doses de prazer e encantamento. Poucas vezes o titulo de um álbum foi escolhido com tanta propriedade.

2 comentários:

Anônimo disse...

este cd é um clássico da MPB (música pop boa)!!! deixo aqui como dica, escutem e tenham em casa. Adorooooo!!!

Anônimo disse...

Eu diria que este cd, eh composto de musica inteligente, agradavel, sensivel...
Enfim eh necessario ouvi-lo, te-lo entre os favoritos..
A voz do Affonsinho eh sublime, combina com por do sol á beira mar. combina com chuva, combina com noites, combina com manhas.. eh tdo de bom...