Crônica de Affonsinho - para o Jornal: Estado de Minas - Caderno de Imóveis (13/08/06)

Belo Horizonte, minha amiga e namorada

Por Affonsinho*

Morar bem pode ser um tanto de coisas, mas pra mim é estar perto dos amigos ! Fernando Brant já dizia : “amigo é coisa pra se guardar ...” e tomo a liberdade de acrescentar : “ bem pertinho da casa da gente” ! Nasci aqui mesmo, na Cidade Vergel, passei a infância no Rio, a adolescência em Belo Horizonte (Cidade Saúde), morei em Brasília, estudei música nos EUA, fiz parte do grupo Hanói Hanói, no Rio, e finalmente regressei à minha querida Beagá, de onde não pretendo sair tão cedo.

O mundo é lindo, concordo. Mas nunca me fugiu da cabeça a cena de um filme de Roberto Carlos que vi no cinema ainda criança. Não me lembro o nome da fita, mas, na cena, ele guiava um carrão último tipo, em algum lugar maravilhoso da Europa, totalmente chique, rico e famoso, como sonham os aspirantes à fama e a algumas revistas ricas, chiques e famosas de hoje. Mas a trilha sonora era uma canção que dizia : “de que vale tudo isso se você não está aqui ...”. Com meus cinco ou seis aninhos entendi a dor de um ídolo.

Cresci, morei aqui e ali e não troco nada nesse mundo por uma simples voltinha na Savassi. Vou caminhando contra o tempo, sem lenço, sem documentos, mas com todas as boas lembranças muito bem arquivadas em minha memória do coração. Um sorvete na São Domingos, um ex colega de 7ª. Série do Colégio Arnaldo, o doce desfilar branquinho de nossas moreninhas lindas do Minas, - minha revolta por não ver até hoje uma estátua para o grande Pacífico Mascarenhas no coração musical da Savassi - os Cafés, os músicos, os livros, os velhos e novos amigos ... Uma sobrinha me perguntou se era mesmo o “progresso” que tinha levado embora a padaria responsável pelo “nome” da Praça. Fiquei sem saber e respondi coisas como : o gato comeu, foi pro mato, a água apagou, o boi bebeu ...
Bem, por fim gosto mesmo dos meus amigos e quero envelhecer bem pertinho deles. Tomara que muito mais rindo que chorando, apesar de uma lágrimazinha de vez em quando servir até pra aumentar a amizade. Meu disco novo – Belê – se chama assim por causa de Belo Horizonte. Certa noite meus olhos foram sugados pela lua que mora na janela do meu quarto. Corri para o violão e comecei a escrever : “Luar de belo de Belô do céu / Papel depressa pra escrever porque / Belê zabumba bem meu coração / Balão do fogo só do bem querer / Bambolê fiquei feliz por ficar assim / Tão a fim daquela bola que ela deu pra mim ...
Belo Horizonte sempre me deu bola, minha amiga e namorada.


*Affonsinho é guitarrista, cantor, compositor, produtor, ator e jornalista. Estudou música na famosa Berklee College of Music (Boston EUA), foi professor de guitarra de Samuel Rosa, do Skank, fundou o grupo Hanói Hanói nos anos 80 e, em carreira solo lançou três Cds (Zum Zum e Esquina de Minas vols I e II) pela gravadora carioca Dubas Musica, de Ronaldo Bastos, no Brasil e no Japão. Recentemente atuou na Minissérie JK –Tv Globo - interpretando o seresteiro César Prates. Affonsinho acaba de lançar seu 4º. CD autoral – Belê - pela Dubas Música – htttp://affonsinho.blogspot.com